Tiago Sousa. Maria Matos.


Há notas soltas no ar, atiradas aos nossos ouvidos.
Há pautas no coração do piano. O encontro da obra com o instrumento.
Há pedais de efeitos que nos fazem viajar. Em hipnose.
Há temas novos a estrear. E antigos com novas cores.
Há uma raiva escondida, uma fúria silenciosa.
Há um controlo racional da emoção. Que emociona.
Há paisagens e ambientes em viagens só de ida.

Não há palmas enquanto não há silêncio.

Há piano e teclado. E uma tarola encoberta tocada com delicadeza.
Há um violoncelo em forma de mulher. E uma mulher que o toca.
Há um homem alto que sopra num clarinete-baixo e nos leva ao Oriente.
Há um microfone que recebe os gritos processados que vêm do fundo.

Não há cadeiras vazias na bancada.

Há vento na floresta. Sol de fim-de-tarde na praia.
Há chuva no deserto e um avião que faz sombra quando passa.
Há uma luz sóbria que acompanha os músicos. Um a um.
Há História e Filosofia. Literatura e Cinema.
Há música no teatro, arte no espectáculo.
Há falta de palavras. Dele e de nós.

Não há encore.



(próximo concerto: dia 01 de Abril na Livraria Trama, Lisboa)
(fotografia de: Vera Marmelo)

vinil 2.0


Em tempos difíceis para a indústria fonográfica qualquer boa notícia funciona como uma nova janela de oportunidade para a vida do sector. De ano para ano, desde 2000 e com a massificação da Internet, temos vindo a registar sucessivas quebras nas vendas de música no formato CD. Isto é um facto cada vez mais incontornável.
Porém, segundo os últimos dados que remontam às vendas no ano de 2009, cresce com maior consistência a aposta no Vinil. Em termos percentuais foi o formato que mais cresceu desde 2007, mais ainda que o formato digital, aumentando o ano passado cerca de 30%. (consultar dados dos E.U.A. aqui)
É, por isso, cada vez maior, também, a atenção e o espaço dado a este novo-velho formato nas lojas de música, em parte devido à oferta também ela mais vasta das próprias editoras que tentam ganhar no Vinil o que perdem no CD.
Também os próprios artistas fazem questão de não deixar de lado este formato, tornando-o até em algo mais especial para os fãs, como o podem comprovar as várias edições limitadas (numeradas e/ou autografadas).
Em Portugal, e segundo o representante da Associação Fonográfica Portuguesa, as vendas contabilizadas em 2008 foram cerca de 4000, enquanto que até ao final do terceiro trimestre de 2009 já se teriam vendido cerca de 8500 unidades de Vinil novo, ou seja sem contar com o mercado enorme de usados em feiras e lojas da especialidade. (ouvir este e outros depoimentos sobre a situação do Vinil em Portugal, aqui)
De referir, também, o crescimento nas vendas de gira-discos que vem provar que há novas gerações a apostar na audição do Vinil e em todo o ritual, de pousar a agulha no disco, que acompanha esta experiência. Mais afectiva, emocional. Analógica. Tal e qual como o objecto e o que nos liga a ele.
É o retorno ao analógico neste mundo digital.
Ler mais sobre o assunto:
Nielsen
Guardian
PopMatters
New York Times
Wired