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logo. museu da música.

"para trás já não se vê nada"


A Rosário nasceu no Vale da Couda dia 18 de Julho de 1923. Ainda habita na casa onde cresceu com os pais e os seis irmãos. Quatro raparigas e dois rapazes.
Sempre a conheci, desde que nasci, como vizinha e melhor amiga da minha bisavó Deolinda. "Avó Linda" para os mais chegados. Hoje é uma das últimas resistentes duma aldeia em tempos cheia de vida. Nunca casou nem teve filhos. Nunca partiu para Lisboa ou França. Nunca deixou que ninguém lhe ocupasse a casa de família. Mesmo quando essa família passou a ser só ela.
Como companhia preferiu sempre os cães. Teve vários, um de cada vez e sempre com o mesmo nome... "Carriço". Por estar habituada, por ser mais fácil de decorar. É um cão fiel, que ladra a quem não conhece que tente entrar em casa da dona. Enquanto não percebe um reconhecimento dela em relação ao intruso, deixa-se ficar aos seus pés. Para a proteger. Quando ela anda a passear, ele vai sempre à frente para a avisar em caso de perigos. É um cão doce. Fiel. Ela diz que ele não tinha hipótese de sobrevivência numa grande selva urbana. E desconfia também das suas próprias hipóteses num ambiente citadino. De momento tem também dois gatos que um dia por lá apareceram e foram ficando.
Das dezenas de cabras que pastava só lhe restam duas. Brancas com seis anos de idade. Todas as manhãs, "pela fresca", passeia-as pela serra para se alimentarem. Adoram figos e folhas verdes. Segue religiosamente a rota de sempre, desde sempre. É a rotina dela. Ao voltar a casa antes de almoço, ordenha as cabras e com o leite, coalhado com os cardos que vai apanhando ao longo da manhã, faz um queijo. Divinal. Único. Maravilhoso. Um queijo que é um dos objectivos do seu dia. Das suas semanas, meses e anos seguidos de trabalho. Sem folgas ou férias. É o seu trabalho e a sua ocupação. Diz que não sabe fazer mais nada. Que fez isto a vida toda.
Tem uma horta na parte de trás da casa onde trata das batatas, dos pimentos, das hortaliças, das alfaces. Em tempos fazia broa e pão. Criava coelhos, galinhas e porcos. Agora já não consegue. De noite espanta os javalis agarrada ao terço com a cruz a bater numa velha cafeteira de inox. O Carriço corre junto ao muro a ladrar.
Nunca provou cerveja. Bebe um copito de tinto (ou agua-pé) por dia. A acompanhar uma das refeições.
Custa-lhe reconhecer-me. Confunde-me com o meu pai. Desde há uns dez anos para cá. Porque tenho lá ido com menos frequência. Só ao fim dum par de horas começa a lembrar-se de mim. A memória está mais lenta. Mas ainda está lá tudo guardado.
Destas últimas vezes tem-me custado ainda mais despedir-me dela. Porque fico com a sensação que é a última vez que detenho o meu olhar naqueles olhos azuis claros e inocentes que nos confortam. Como o céu. E porque ela é a última pessoa que dá vida àquela rua cheia de boas recordações que guardo com carinho dentro de mim. E, por isso, sempre que lá volto fico feliz por saber que ela lá continua. Naquela rotina. Se a terra é de quem a trabalha, então toda aquela terra é dela.
Obrigado por tudo, Rosário. Para o ano lá estaremos todos juntos. Outra vez.

fuga sem prelúdio.

logo. ccb.

a música é uma arma

portugal vs. brasil



da alma.

love song to nyc


play


"A música oferece às paixões o meio de obter prazer delas"
Nietzsche

casa



Toda a gente ouve música consoante o seu estado de espírito. Ou escolhe o disco a ouvir conforme se quiser sentir. Eu não sou excepção. Porém na minha colecção há um certo tipo de discos que me fazem sentir duma maneira diferente. São especiais mas nem por isso melhores ou piores que os outros.
Um dos maiores prazeres que a música me oferece, e um dos primeiros que eu nela procuro, é a sensação de redescoberta. Gosto de ouvir um disco que ficou silenciado durante alguns tempos e voltar a dar-lhe atenção. Hoje o escolhido foi do Dave Holland Quintet "Prime Directive". É um disco maior na imensa discografia de um dos meus contrabaixistas favoritos de todos os tempos e do jazz em particular. Lembro-me de o ouvir muitas vezes quando saiu há mais de dez anos atrás. Lembro-me que foi o primeiro disco do Dave Holland que comprei. E um dos primeiros com o selo da ECM na minha estante. É uma gravação impecável que reúne excelentes intérpretes (Chris Potter no saxofone é fabuloso; Steve Nelson nos vibes e na marimba que aqui substituem o piano normal numa formação de jazz acrescenta um tom exótico e diferente; Billy Kilson na bateria enche os temas de groove e muito bom funk; Robin Eubanks no trombone dialoga muito bem com o saxofone de Potter; Dave Holland está ao seu melhor nível).
Hoje, chegado a casa e ao fim de mais um dia de trabalho, pus este disco a tocar. Foi como que um regresso a casa há muito esperado. Escolhi por impulso e na volta recebi um abraço quente e acolhedor saído das colunas.
Deitei-me no sofá de olhos fechados e deixei-me embalar até adormecer.

Ouvir aqui.

amanhã. coliseu.


I Need That Record!


hoje. aula magna.


arts & crafts on a sunny sunday




free-prog-indie-post-jazz


Portico Quartet é um produto da Londres do século XXI. Passaram ontem pelo lindíssimo Teatro São Luiz para apresentar o seu mais recente álbum "Isla". Segundo registo que veio, de novo e depois de "Knee-Deep In The North Sea", refrescar e desbravar novos caminhos na cena jazz mundial. Este jovem quarteto inglês apresentou-se no seu formato tradicional com bateria, contrabaixo, saxofone e a particularidade original da utilização de três hang-drums, instrumento de percussão similar ao steel-drum característico da música tradicional caribenha, que constrói uma base harmónica atraente que aquece e encorpa cada um dos temas. As melodias ficam entregues aos saxofones de Jack Wyllie que utiliza um tom agridoce, ao melhor estilo de Mark Turner e à corrente mais free de Nova Iorque. A secção rítmica, constituída por Duncan Bellamy na bateria e Milo Fitzpatrick no contrabaixo, hipnotiza-nos com a apropriação jazzística de ritmos tão diversos como a valsa e o reggae criando momentos de tensão, à base de muita contenção. Não sendo intérpretes de excepcional qualidade possuem uma criatividade que os leva a usar vários pedais de efeitos e electrónica diversa nos seus instrumentos, excluindo o hang drum. Este grupo pega no legado do Esbjorn Svensson Trio e leva-o a paragens por onde também se situa Todd Sickafoose. Levam o espírito indie ao jazz e as estruturas do jazz ao indie.

separados à nascença



black & white


godDilla


James Yancey, conhecido no mundo do hiphop por J Dilla ou Jay Dee, faleceu em 2006. Os beats por ele produzidos continuam a ser usados por vários MC's para rimar por cima. Ele foi e sempre será, de longe, o meu produtor favorito de instrumentais hiphop. Pelo cuidado que tinha em tratar todos os sons, fossem samples ou baterias. Pela criatividade e imaginação que punha em todas as faixas. Pelo passo à frente que representavam as suas novas produções. Foi um artista sempre preocupado em evoluir, em crescer, em desenvolver a sua técnica. Foi único e continua a soar fresco, todos os dias. Na minha humilde opinião, ele foi para o rap aquilo que décadas antes Lee "Scratch" Perry tinha sido para o reggae/dub. Um verdadeiro revolucionário que fez da mesa de mistura a sua arma.
Por ocasião do 6º aniversário da sua morte, a Stussy resolveu produzir um documentário como homenagem a este verdadeiro mestre do beat-making. Aqui vai ele, para quem tem curiosidade e um pouco de tempo. Espero que gostem!
Long Live the D.






Tiago Sousa. Maria Matos.


Há notas soltas no ar, atiradas aos nossos ouvidos.
Há pautas no coração do piano. O encontro da obra com o instrumento.
Há pedais de efeitos que nos fazem viajar. Em hipnose.
Há temas novos a estrear. E antigos com novas cores.
Há uma raiva escondida, uma fúria silenciosa.
Há um controlo racional da emoção. Que emociona.
Há paisagens e ambientes em viagens só de ida.

Não há palmas enquanto não há silêncio.

Há piano e teclado. E uma tarola encoberta tocada com delicadeza.
Há um violoncelo em forma de mulher. E uma mulher que o toca.
Há um homem alto que sopra num clarinete-baixo e nos leva ao Oriente.
Há um microfone que recebe os gritos processados que vêm do fundo.

Não há cadeiras vazias na bancada.

Há vento na floresta. Sol de fim-de-tarde na praia.
Há chuva no deserto e um avião que faz sombra quando passa.
Há uma luz sóbria que acompanha os músicos. Um a um.
Há História e Filosofia. Literatura e Cinema.
Há música no teatro, arte no espectáculo.
Há falta de palavras. Dele e de nós.

Não há encore.



(próximo concerto: dia 01 de Abril na Livraria Trama, Lisboa)
(fotografia de: Vera Marmelo)

vinil 2.0


Em tempos difíceis para a indústria fonográfica qualquer boa notícia funciona como uma nova janela de oportunidade para a vida do sector. De ano para ano, desde 2000 e com a massificação da Internet, temos vindo a registar sucessivas quebras nas vendas de música no formato CD. Isto é um facto cada vez mais incontornável.
Porém, segundo os últimos dados que remontam às vendas no ano de 2009, cresce com maior consistência a aposta no Vinil. Em termos percentuais foi o formato que mais cresceu desde 2007, mais ainda que o formato digital, aumentando o ano passado cerca de 30%. (consultar dados dos E.U.A. aqui)
É, por isso, cada vez maior, também, a atenção e o espaço dado a este novo-velho formato nas lojas de música, em parte devido à oferta também ela mais vasta das próprias editoras que tentam ganhar no Vinil o que perdem no CD.
Também os próprios artistas fazem questão de não deixar de lado este formato, tornando-o até em algo mais especial para os fãs, como o podem comprovar as várias edições limitadas (numeradas e/ou autografadas).
Em Portugal, e segundo o representante da Associação Fonográfica Portuguesa, as vendas contabilizadas em 2008 foram cerca de 4000, enquanto que até ao final do terceiro trimestre de 2009 já se teriam vendido cerca de 8500 unidades de Vinil novo, ou seja sem contar com o mercado enorme de usados em feiras e lojas da especialidade. (ouvir este e outros depoimentos sobre a situação do Vinil em Portugal, aqui)
De referir, também, o crescimento nas vendas de gira-discos que vem provar que há novas gerações a apostar na audição do Vinil e em todo o ritual, de pousar a agulha no disco, que acompanha esta experiência. Mais afectiva, emocional. Analógica. Tal e qual como o objecto e o que nos liga a ele.
É o retorno ao analógico neste mundo digital.
Ler mais sobre o assunto:
Nielsen
Guardian
PopMatters
New York Times
Wired


Avatar a.k.a. Pocahontas 3D


novo talento lost in (my)space



Diego Max é um produtor experimental residente em São Paulo, Brasil. Gosto do corte & costura que faz nos sons que vai apanhando um pouco por todo o lado. Ele apresenta-se assim ao mundo:

"ANTI - PROFISSIONAL DO AUDIO. Projeto experimental produzido por Diego Max , Disco feito em casa entre o fim de 2008 e inicio de 2009 "Perimetro cefalico" é o registro de um periodo de aprendizagem conhecimento, e muita diversão nos momentos de ócio, não tem como intenção, proporcionar qualquer forma de espetáculo. Apenas pela diversão e não sustentação do maldito ego. Produzido de forma totalmente independente, no velho e bom estilo do it yourserlf, com uma proposta mais despojada, cética e irreverente, sem qualquer preocupação profissional ,moral ou ética. Dedicado a todos aqueles que ainda acreditam que exista reação de uma forma ou de outra. sejam bem vindos. A reprodução ou cópia integral ou parcial destas músicas e/ou textos é totalmente livre e incentivada, desde que não seja pra fins lucrativos. Também sou tolerante a cópias, colagens e plágios descarados de qualquer obra artistica/intelectual desde que nenhuma pessoa reivindique para si a autoria das mesmas. viva o copyletf. faça download seja feliz, disponibilize as informações seja voce também um ser copyleft. Jamais retenha a informação, pois ela não pode ser restrita a nenhum individuo. Faça você mesmo."

Myspace
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